Estado: um impasse para o desenvolvimento humano?

Andei pensando no que eu poderia fazer a fim de melhorar um pouco essa miser�vel situa��o em que cegamente nos encontramos. Comecei por cogitar as a��es individuais que poderia tomar, e eis que esbarrei invariavelmente no Estado.

O Estado � respons�vel por tudo e por todos, penetrando e permeando praticamente todas as coisas. Desta forma, tive (e acho que n�o sou o �nico) a impress�o de que tudo que me cabe fazer � obedecer os seus mandos e tudo estar� perfeitamente resolvido, o problema ent�o estaria naqueles poucos homens que n�o s�o t�o interessados no bem comum, e estes homens est�o tanto na sociedade quanto no pr�prio corpo burocr�tico.

Ent�o a sa�da para esse impasse estaria na elimina��o ou, ao menos, neutraliza��o desses homens. Desta forma estar�amos capacitados a alcan�ar o momento da harmonia conflitante m�xima. De qualquer forma, o Estado � sempre presente.

O que mais me intriga � que o Estado � algo que surgiu apenas alguns s�culos atr�s... o que faziam as pessoas para viver em relativa tranq�ilidade antes disto?

O Estado � algo muito forte e importante nos dias de hoje, mas ele n�o � algo que sempre existiu e, portanto, n�o � algo que dever� existir para sempre.

O Estado surgiu e passou por um fabuloso processo de fortalecimento e de expans�o qualitativa. Foi assumido todas as responsabilidades que encontrava pela frente e, por vezes, at� mesmo criou algumas responsabilidades adicionais.

Por um lado esse avan�o foi muito positivo uma vez que permitiu um inigual�vel avan�o no sentido do conforto f�sico humano. Por outro lado todavia, esse avan�o foi negativo j� que destruiu as iniciativas fora do corpo ou influ�ncia/coordena��o direta deste Estado. Muitos acreditam que este ponto tamb�m � um ponto positivo. Eu n�o. N�o consigo acreditar na teoria dos pouco homens maus que devem ser, no m�nimo, neutralizados. E dando uma boa olhada pelas ruas (mesmo da maioria dos pa�ses de Primeiro Mundo), n�o vejo uma situa��o razo�vel ou em vias de ser melhorada. Um exemplo � este texto: as pessoas que est�o "pagando" por n�o se adequarem ao sistema s�o aquelas que jamais ter�o este texto em m�os, ao menos n�o para ler, quem sabe para fazer dele um cobertor?...

De qualquer forma existem aqueles que concordam comigo e, a fim de melhorar a situa��o, prop�em que o Estado d� mais educa��o permitindo �s pessoas entenderem o que se passa e lutar por ela, por uma melhora dela.

� aqui que eu tenho que discordar deles tamb�m. Em primeiro lugar porque n�o acredito que um Estado seja idiota o bastante para fornecer as armas (informa��o) que servir�o para derrub�-lo no momento seguinte.

Em segundo lugar, essa cr�tica ao excessivo poder do Estado est� jogando a ele mais essa responsabilidade. Ou n�o entendi muito bem, ou � algo como "antes de enfraquec�-lo vou fortalec�-lo um pouco mais".

Porque deveria caber ao Estado – e essa � uma vis�o quase un�nime – promover o desenvolvimento interno (e externo) de todas as pessoas? Porque ele cobra impostos seria uma boa resposta, mas acho que ela n�o � suficiente.

E no momento em que o Estado n�o existia? Quem auxiliava e, por vezes, promovia o desenvolvimento interno das pessoas?

A humanidade, por si s�, tem dificuldades em seu desenvolvimento acumulativo a n�o ser que esteja organizada em grupos. Ou seja, antes do Estado deveria haver outras formas de organiza��o que, de alguma forma, cumpriam o papel que hoje cumpre – aparentemente sozinho – o Estado.

E aqui me pergunto: onde est�o as organiza��es/institui��es? O que est�o fazendo a Igreja, as organiza��es de classe, as associa��es comunit�rias, os clubes? Ao que parece, est�o todos reinfor�ando a l�gica imposta pelo Estado e s� algumas muito roucamente tentam levantar a voz.

Onde foram parar as vis�es alternativas, os modelos alternativos, as outras bases de apoio? Ou forma simplesmente destru�das (coisa que particularmente desacredito) ou formam sugadas pelo Estado.

A essa altura voc� deve estar achando que eu sou algo pr�ximo a um anarquista. De fato acho que tenho um "que" anarquista, entretanto acredito na import�ncia de um Estado.

O estado � hoje o mais importante ponto de refer�ncia que temos, mas n�o deve ser o �nico. Um Estado, por mais democr�tico que seja em suas institui��es, jamais ser� genuinamente democr�tico se n�o enfrentar constantemente um embate com outras vis�es (vindas de fora e n�o de seu pr�prio corpo).

E o mais importante, n�o cabe ao estado promover o desenvolvimento dessas outras organiza��es. Tal tarefa est� nas m�os de cada uma daqueles que quer um mundo diferente... para o bem ou para o mal.

Rodrigo Cintra

S�o Paulo, outono de 1999